As imagens da série propõem-se como uma coleção narrativa de ocorrências acidentais e disruptivas do quotidiano material e orgânico.

Os acidentes documentados apesar de verdadeiros adquirem aqui uma dimensão metafórica – e logo exponenciada – pelo cuidado enquadramento, pela atenção lumínica e a encenação fotográficas.

As fotografias em plano aproximado e tecnicamente despojadas apenas aparentemente são descritivas, uma vez que o seu conjunto narrativo cria um enigma inquieto. A cicatriz recente da esterilização de um animal doméstico e o que resta de belos objetos partidos remetem para a perda e a dor no dia-a-dia.

Por último, a imagem final destaca-se do conjunto quer pelo tema fotografado (o surgir em campo da pessoa humana), pela sua maior dimensão, por abrira porta do espaço interior para o exterior, mas sobretudo pela proposta que avança de uma tentativa de reparação e de cuidado. Dedos de pés nus cuidadosamente envoltos em peles, dedo a dedo, um a um, aconchegam e aumentam a nossa temperatura. Esta fotografia ao apresentar uma reparação pouco funcional – isto é, pouco funcional para a movimentação dos corpos reais no espaço, para a confortável locomoção de pés na relva – sublinha o potencial de evocação e metáfora do campo da representação nas imagens.