Girl Meets Boy é um projecto site-specific para as duas montras do Restaurante Gira Pratos, situado na mesma rua que a galeria Lab 65, no Porto. No seguimento de um convite pelos dois espaços, Júlio Dolbeth, ilustrador e designer do Gira Pratos, e Rita Castro Neves, artista ligada à Lab65, propõem trabalhar em colaboração com materiais usados habitualmente na publicidade e no vitrinismo: fotografia, vinil recortado e caixas de luz.

O trabalho parte da ideia de restaurante enquanto lugar de sedução, onde um protocolo deve ser seguido tal como esperado num local público. Girl Meets Boy é uma fantasia visual. Assim como a fotografia é uma construção do real com a aparência de realidade. A fantasia recorre à auto-imagem e aos gestos esperados para um primeiro encontro entre um homem e uma mulher.

Apresentam-se duas fotografias colocadas dentro do logotipo do restaurante, iluminadas por duas lâmpadas simples. Os dois retratos são dos artistas, um em cada montra: o rapaz bebe por um copo manchando de vinho a sua t-shirt branca e a rapariga segura um guardanapo branco entre os lábios cheios de baton vermelho esborratado. A escolha de gestos e objectos normalmente associados com a ideia de restaurante remete simultaneamente para uma abordagem próxima da psicanálise, onde o vinho tinto e o baton vermelho serão substitutos de sangue, bem como para a concepção comummente aceite de ver estes elementos como símbolos de sedução, ligeireza e auto-transformação.

Por outro lado estas imagens de promessa, expectativa e fantasia têm por referência directa uma linha mais cool da fotografia de moda enquanto forma convencional de produção de imagens atraentes. Ao mesmo tempo, satirizam com a ideia do artista enquanto objecto de desejo. Na noite da inauguração – e num exercício quase performativo – tal é sublinhado por uma festa com um mix informal de sets por alguns dos DJ’s mais cool da cidade do Porto, obviamente nossos amigos.

As fotografias circulares estão coladas ao vidro com autocolantes em vinil por dentro do restaurante. Os autocolantes possuem cores primárias e formas igualmente cliché (uma bolacha VISA, uma caveira, uma nuvem, um gelado, cerejas…). Graças à iluminação do trabalho, dentro do restaurante apenas os autocolantes em vinil são visíveis e da rua apenas se vêm as fotografias – explorando-se uma vez mais a dualidade da peça (colaboração entre dois espaços, colaboração entre dois artistas, dois géneros, duas montras, duas fantasias…).

Quando uma rapariga encontra um rapaz as coisas podem correr mal como numa valsa gore sedutora, metáfora destes nossos actuais tempos das imagens.