humanimal, com Daniel Moreira

humanimal parte da idealização de um mundo mais conectado nos seus elementos entre natureza e humano. Esta ideia-necessidade de rever a separação desalinhada entre nós e o mundo, propõe como que uma transição para uma nova forma de ser. As imagens da série são assim experiências de novos humanos-natureza-animais, em corpos adaptados e em transição. Todavia, a adaptação proposta não fecha uma proposta ecológica ou humanamente concretizável, mas antes uma experiência visual, sobre possibilidades materializáveis através da imagem. A série não é programática – antes poética e utópica – e lança mão do meio que dominamos e operamos: a criação artística. Nesta linha, a reflexão não é só a partir, mas também, sobre o fazer fotográfico.
Ancorada no nosso projeto de dupla de observação da natura, com atenção especial às qualidades matéricas dos elementos seus, são aqui exploradas as possibilidades formais e materiais de folhas, esponjas, cascas para potencializar as suas relações com o humano, para lá do seu ser-objeto.
Nos jardins exteriores três estruturas em madeira, de construção tosca e desalinhada, lembram as estruturas usadas para o transporte de vidros, como um trabalho ainda em desenvolvimento: paragem entre dois ou mais pontos, transporte, processo. É nesse dispositivo que se encontram impressas as fotografias, em placas coloridas, opacas e transparentes, que pelas suas sobreposições criam novas cores, e lembram paletas reconhecíveis de cor ligadas à construção e reprodução das imagens. RGB, CMYK, Pantone… nomes que criam imagens mentais de sonoridade estrangeira.
A luz natural também opera nestas estruturas como mais um dipositivo do visível: transforma a placa translúcida em écran, e a opaca em espelho da paisagem que a envolve.
As oito fotografias de empoderamento sendo, cada uma, afirmação visual, assentam na ligação inusitada entre os elementos encenados (humano-não humano-paisagem), assim se sublinhando uma reflexão sobre relações visuais criadas entre corpo humano e corpo natural, como um corpo único – ainda que ideologicamente ficcionado. Assim como um mapa não é um território, mas apenas uma sua representação, as aproximações visuais operadas são do campo bidimensional, não se aguentando a um espreitar lateral, ou a uma lógica realista. Essa visível fragilidade destas imagens fabricadas, sublinha também o caráter incerto do nosso futuro.

Ci.CLO Bienal de Fotografia do Porto’19.
Adaptação e Transição. Curadoria de Virgílio Ferreira.
humanimal é uma obra site-specific para o exterior dos Jardins do Palácio de Cristal, no Porto. 16 de maio a 2 de julho de 2019.

Instalação com 3 elementos (3 estruturas em madeira, 13 placas de acrílico coloridas, translúcidas e opacas, de dimensões variáveis, 8 fotografias 60 x 90cm cada).