Esta é uma escola pública com a arquitectura típica da ditadura portuguesa – com pequenas adaptações a mesma arquitectura do norte ao sul do país. Na entrada vazia do edifício ecoam vozes das crianças a brincar no recreio. Este é o período de férias e as vozes vêm de colunas de som escondidas no mobiliário. À confusão das vozes junta-se a limpidez da campainha e o ladrar de um cão.
No primeiro andar apenas uma das salas de aula não está fechada à chave. No interior dela: silêncio, e logo a porta que se fecha atrás de nós estrondosamente graças a um mecanismo nela colocado. Agora sós e sem barulho a sala de aula apresenta-se-nos com as suas janelas e mobiliário perfeitamente embrulhadas em tecido branco, cosido com linha branca no local. A disposição das carteiras e cadeiras impõem-se pela rectitude das suas três filas – memória da fila dos maus, dos médios e dos bons. Em cima do quadro negro – agora branco – o crucifixo da escola supostamente laica lembra-nos que afinal a iconografia do Estado-Novo ainda está presente.
Não Ponham Mais Palavras Na Minha Boca, 1997. Site-specific numa escola do 1º Ciclo. Entrada e sala do 1º andar da Escola nº 97, Porto. Organização da artista. Apoio: Gabinete de Relações Internacionais do Ministério da Cultura.
Som estéreo de 4 colunas escondidas, pano branco de lençol em algodão, linha branca.
